RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2023-2024

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, os países ricos registam níveis sem precedentes de desenvolvimento humano, ao passo que metade dos países pobres regridem

13 de March de 2024

De acordo com a tendência registada antes de 2019, nenhuma das regiões em vias de desenvolvimento alcançou os níveis de IDH previstos

PNUD Guiné-Bissau

Nova Iorque, 13 de Março de 2024 – O progresso desigual do desenvolvimento está a deixar para trás os mais pobres, agravando a desigualdade e fomentando a polarização política à escala global. De acordo com um novo relatório publicado hoje pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), tem como consequência um impasse perigoso que deve ser urgentemente combatido por meio de uma ação coletiva. 

O Relatório do Desenvolvimento Humano (RDH) de 2023/2024, intitulado “Pôr fim ao impasse: reimaginar a cooperação num mundo polarizado”, revela uma tendência preocupante: a recuperação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) – um indicador sintético que reflete o rendimento nacional bruto (RNB) per capita, a educação e a esperança de vida – tem sido parcial, incompleta e desigual. 

Estima-se que o IDH atinja níveis históricos em 2023, após declínios acentuados em 2020 e 2021. Porém, este progresso é profundamente desigual. Por um lado, os países ricos registam níveis históricos de desenvolvimento humano e, por outro, metade dos países mais pobres do mundo mantêm-se abaixo do seu nível de progresso anterior à crise. 

As desigualdades globais são agravadas por uma concentração económica substancial. Como se refere no relatório, aproximadamente 40 por cento do comércio global de mercadorias concentra-se em três ou menos países e, em 2021, a capitalização bolsista de cada uma das três maiores empresas tecnológicas a nível mundial ultrapassou o produto interno bruto (PIB) de mais de 90 por cento dos países nesse ano. 

«O aumento da lacuna de desenvolvimento humano evidenciada pelo relatório aponta para uma inversão da tendência de duas décadas de redução constante das desigualdades entre países ricos e pobres. Apesar da profunda interligação das nossas sociedades globais, estamos a ficar aquém das expetativas. Devemos potenciar a nossa interdependência e as nossas capacidades para enfrentarmos os desafios comuns e existenciais e para garantir que as aspirações das pessoas sejam satisfeitas», afirmou Achim Steiner, diretor do Programa da Nações Unidas para o Desenvolvimento. «Este impasse implica um custo humano significativo. O fracasso da ação coletiva na promoção da ação sobre as alterações climáticas, a digitalização ou a pobreza e a desigualdade não só dificultam o desenvolvimento humano, como também acentua a polarização e desgasta ainda mais a confiança nas pessoas e nas instituições em todo o mundo.» 

O relatório defende que o avanço da ação coletiva internacional é dificultado por um «paradoxo da democracia» emergente: apesar de nove em cada dez pessoas em todo o mundo apoiarem a democracia, mais de metade dos inquiridos em sondagens globais manifestam o seu apoio a líderes que a podem minar, contornando as regras fundamentais do processo democrático, de acordo com os dados analisados no relatório. Metade das pessoas inquiridas em todo o mundo referem ter pouco ou nenhum controlo sobre as suas vidas e mais de dois terços consideram ter pouca influência nas decisões do seu governo. 

A polarização política também constitui uma preocupação crescente com repercussões a nível global. A par de um sentimento de impotência, segundo os autores do relatório, está a alimentar abordagens políticas viradas para dentro, em total contradição com a cooperação global necessária para resolver questões urgentes como a descarbonização das nossas economias, a má utilização das tecnologias digitais e os conflitos. Trata-se de uma situação especialmente alarmante à luz das temperaturas recorde que se fizeram sentir em 2023, que sublinham a necessidade imediata de uma ação unida para fazer face à crise climática, ou no surgimento da inteligência artificial como uma nova fronteira tecnológica em rápida evolução, com pouca ou nenhuma proteção regulatória. 

O relatório destaca o facto de a desglobalização não ser viável nem realista atualmente e de a interdependência económica permanecer elevada. Refere que nenhuma região está próxima da autossuficiência, uma vez que todas dependem em 25 por cento ou mais das importações de outras regiões de, pelo menos, um dos principais tipos de bens e serviços. 

«Num mundo marcado por uma polarização e por uma divisão crescentes, descurar o investimento nos outros representa uma séria ameaça ao nosso bem-estar e à nossa segurança. As abordagens protecionistas são incapazes de dar resposta aos desafios complexos e interligados que enfrentamos, incluindo a prevenção de pandemias, as alterações climáticas e a regulação digital», acrescentou Steiner. «Os nossos problemas estão interligados, pelo que requerem soluções igualmente interligadas. Com a adoção de uma agenda centrada em oportunidades que coloque a tónica nos benefícios da transição energética e da inteligência artificial para o desenvolvimento humano, dispomos de uma oportunidade para sair do atual impasse e para reacender o compromisso com um futuro partilhado.» 

O relatório destaca a forma como a interdependência global está a ser reconfigurada e apela a uma nova criação de bens públicos globais. Propõe quatro áreas de ação imediata: 

  • bens públicos a nível planetário, à medida que enfrentamos os desafios sem precedentes do Antropoceno; 
  • bens públicos globais digitais, para uma maior equidade no aproveitamento das novas tecnologias com vista a um desenvolvimento humano equitativo; 
  • mecanismos financeiros novos e alargados, incluindo uma nova via de cooperação internacional que complemente a ajuda humanitária e o apoio tradicional ao desenvolvimento dos países com um baixo rendimento; e 
  • redução da polarização política através de abordagens de governação centradas na valorização das vozes das pessoas no que respeita à deliberação e à luta contra a desinformação. 

Neste contexto, o relatório defende que o multilateralismo desempenha um papel fundamental, uma vez que os compromissos bilaterais não têm capacidade para abordar a natureza irredutivelmente planetária do fornecimento de bens públicos globais. 

 

Outros dados importantes do relatório

  •  Em 2023, todos os 38 países membros da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económicos (OCDE) obtiveram pontuações mais elevadas no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) comparativamente aos seus níveis em 2019. 

  • Entre os 35 países menos desenvolvidos (PMD) que registaram um declínio nos seus IDH em 2020 e/ou em 2021, mais de metade (18 países) ainda não recuperaram os seus níveis de desenvolvimento humano de 2019. 
  • De acordo com a tendência registada antes de 2019, nenhuma das regiões em vias de desenvolvimento alcançou os níveis de IDH previstos. Afigura-se que transitaram para uma trajetória de IDH inferior, o que indica potenciais recuos permanentes no progresso futuro do desenvolvimento humano. 
  • O impacto das perdas de desenvolvimento humano está bem patente no Afeganistão e na Ucrânia. O IDH do Afeganistão registou um retrocesso de dez anos, ao passo que o IDH da Ucrânia registou o seu nível mais baixo desde 2004. 
  • O relatório cita estudos que apontam para o facto de os países com governos populistas apresentarem taxas de crescimento do PIB mais baixas. Decorridos quinze anos após a tomada de posse de um governo populista, verifica-se que o PIB per capita é 10 por cento inferior ao que se registaria num contexto de governo não populista. 

Consulte o relatório completo em https://hdr.undp.org/human-development-report-2023-24 

 

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Em Nova Iorque: stanislav.saling@undp.org +1 347 653 1980 

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Sobre o Escritório do Relatório do Desenvolvimento Humano

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